quarta-feira, 7 de outubro de 2015

(Con)viver


As metades não sabem alimentar a vida, suas mãos são trêmulas e frágeis, incapazes de segurar a necessidade. Viver de metades é se sujeitar a desnutrição, anemia; e pela doença, abrigar uma surdez que toma conta da casa e manda a verdade esconder, casando a mudez com o olhar desbotado. Muitos andam (ou arrastam) vivendo pela metade, morrendo pela metade. Estando, não sendo! Mergulhando e se quebrando em superficialidades. Há muitos machucados no conformismo, ferida...s que não sabem o valor do que realmente custa. Preguiça que amordaça as possibilidades. Tornam-se imóveis, cheios de inquilinos que não moram... que passam, sem cheiro, sem toque, sem olho no olho... Inquilinos distantes, inquilinos ausentes!
Temos fome de intensidade, a vida precisa disso. Desse sabor que junta as metades, constrói inteireza que amplia os sentidos. Essa energia que coloca os móveis no lugar deles e as pessoas no lugar delas. Pessoas que eram móveis, se limpam da poeira do remorso e quebram as algemas que os aparelhos colocaram em suas mãos. A vida da casa não está mais nos fones de ouvido, a vida está naquilo que a abriga. Há voz... Há nós! Pessoas que se emaranhavam nas redes, agora apenas descansam. Pessoas que sentem, que se sentem... que estão e são, sãs... nutridas. Presentes.

Rodolfo Goulart