sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A SAUDADE É A CHAVE

Alguns reencontros deveriam ser tão fáceis quanto pegar uma chave no bolso para abrir uma porta; eu gostaria que algumas pessoas fossem guardadas no meu bolso, não para aprisioná-las, mas para tê-las por perto sempre que eu sentisse saudade. E a saudade é torturante, ela aperta com nós de um só, só desatado quando em nós de ‘pertezas’ que despertam a vida para novas saudades... mais cruéis! Matar saudade é como beber água após um período de intensa sede, é uma saciedade de equilíbrio do lado de dentro, que pode ser sentida imediatamente ou depois de uma nova tortura. 
Há os que precisam sentir muito para sentir mais, outros não conseguem nem pensar em sentir para querer matar; existem os colecionadores de saudade que não moram porque gostam de se multiplicar em muitos, e outros que gostam de ser maiores sendo em poucos. Sendo de qualquer forma o que se sabe é que a saudade é um ioiô que brinca com a gente... um vai e vem de voltas; que sempre volta. Que de um jeito ou outro sempre descobre o caminho de volta. Volta de outras maneiras, por outros caminhos, por outras direções e motoristas, ela sempre retorna. E o pior retorno são daquelas que não conseguem ir embora, e se tornam imortais e inconvenientes: chegam, sentam, tomam lugares, algumas tomam todos os lugares e até sufocam. Ladras do tempo, do sono... tomam tanto o lado de dentro que apertadas, fazem lágrimas caírem na tentativa de se esticar e se alongar... Alongar no tempo, e nos dias, na vida. 
É, algumas não morrem nunca! E para não morrerem de fome chamam a atenção: gritam, pulam, batem, machucam... E engordam, estremecendo tudo nas tentativas de andar... Essas saudades fecham portas, fecham as janelas do horizonte, resumem a casa em quitinete.
Mas existem saudades que quando entendidas dão mansões e transplantam olhos; que não vão embora, mas que levam o acompanhante para morar em outro lugar. Porque há mais inquilinos que precisam de vida em nós... Outros em nós também querem dizer, olhar, cantar... É preciso aprender com a saudade, porque temos muitos outros moradores em nós; e a vida é o alimento dos inquilinos de dentro, ela distribuída faz a casa se transformar em cidade, e da cidade um mundo que tem festa todo dia. Crescer por dentro traz a possibilidade de ouvir músicas diferentes todo dia, e sentir saudade todo dia, de um jeito que transfere o que foi vivido em eternidades, possibilidades, encontros. Nada é apagado, mas guardado... O bolso é o coração que armazena pessoas, fazer o perto morar do lado de fora é viver sabendo que não dá pra lutar com a saudade, mas reconhecer que vencido, pode segurar na mão dela e entender que o sorriso da lembrança é melhor do que a revolta pelo o que não volta. 
Saudade boa é saudade morta? Não, saudade boa é saudade viva, renovada a cada dia de uma vida bem vivida!

(Rodolfo Goulart)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

(Con)viver


As metades não sabem alimentar a vida, suas mãos são trêmulas e frágeis, incapazes de segurar a necessidade. Viver de metades é se sujeitar a desnutrição, anemia; e pela doença, abrigar uma surdez que toma conta da casa e manda a verdade esconder, casando a mudez com o olhar desbotado. Muitos andam (ou arrastam) vivendo pela metade, morrendo pela metade. Estando, não sendo! Mergulhando e se quebrando em superficialidades. Há muitos machucados no conformismo, ferida...s que não sabem o valor do que realmente custa. Preguiça que amordaça as possibilidades. Tornam-se imóveis, cheios de inquilinos que não moram... que passam, sem cheiro, sem toque, sem olho no olho... Inquilinos distantes, inquilinos ausentes!
Temos fome de intensidade, a vida precisa disso. Desse sabor que junta as metades, constrói inteireza que amplia os sentidos. Essa energia que coloca os móveis no lugar deles e as pessoas no lugar delas. Pessoas que eram móveis, se limpam da poeira do remorso e quebram as algemas que os aparelhos colocaram em suas mãos. A vida da casa não está mais nos fones de ouvido, a vida está naquilo que a abriga. Há voz... Há nós! Pessoas que se emaranhavam nas redes, agora apenas descansam. Pessoas que sentem, que se sentem... que estão e são, sãs... nutridas. Presentes.

Rodolfo Goulart

domingo, 1 de dezembro de 2013

Quando eu era criança tinha pena de deixar meus brinquedos sozinhos; hoje tenho pena dos sozinhos que se fazem brinquedo para sentir que são de alguém.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Tem muitos que conseguem esquentar e iluminar com as palavras. Seria pelo fato de carregarem o Sol nas mãos ou na voz? E se for por isso, porque não se queimam? E não seria pesado carregar algo tão gigante? Penso que o Sol só cabe em mãos estendidas, e por reparti-lO, não se queimam. Acredito também que só os pequenos são capazes de carregar algo que seja maior que o mundo. Eu gostaria de carregar o Sol... Sigo tentando; por vezes me queimando ou ofuscando, mas nunca ficando totalmente no escuro ou no frio. E se eu não conseguir carregar o Sol, quero pelo menos ser aquecido e enxergar pela sua Luz. Isso me bastará!


Rodolfo Goulart

domingo, 21 de abril de 2013

Escrever deveria ser tão fácil como respirar. Assim a vida seria menos sufocante.

Rodolfo Goulart

segunda-feira, 25 de março de 2013

As cores das dores em flores


O belo que aterroriza,
Que abraça e esfaqueia,
Que cura e mata,
Que assalta e presenteia.

Sementes que morrem para viver.
Quebram as cascas, e deixam o passado,
Crescem e viram outro ser.
Dores que dão sentido para o que parecia errado.

Flores, que conquistam e que dizem adeus,
Beijos de amores e choros de mortes.
Presentes, passados, faltas, ausências.
Fracos, sensíveis, aprendizes.

Disfarça a morte com maquiagem e flores,
Não cumpre as promessas, mas chega.
Encanta com o por do sol, mas assombra com noites.
Saudade que lava os olhos, mas deixa a alma seca.

Engana, e muda o trajeto,
Leva pra perto, mas aprisionado.
Promessas que atingem a mentira,
E deixam os pés paralisados.

Dores, flores, cores,
Artistas que brilham na escuridão,
Postes de luz, que me dão direção.
As cores das dores em flores.



Rodolfo Goulart

sexta-feira, 22 de março de 2013

terça-feira, 19 de março de 2013

Estrada de vida; corrida sem pressa



Dias atrás, percebi que estava muito cheio de excessos e recheado de faltas. Então, decidi cuidar das podas e das aquisições. Comecei agindo pelo corpo. Iniciei uma maratona de exercícios em uma academia, mas logo apareceram o cansaço, a indisposição e o desânimo, que eram devido às faltas internas, causadas pelos assaltos sofridos no dia-a-dia, e pela indigestão causada pelos sapos engolidos nas convivências. Então percebi que para cuidar dos excessos, precisaria primeiro cuidar das faltas: encher por dentro para esvaziar por fora. Entendi que precisaria movimentar o corpo, a mente e a alma.
Um dia, caminhando pela cidade, vi uma longa estrada de terra vermelha firme, coberta por um céu mais inteiro e rodeada de uma mata verde intenso. Decidi fazer dessa estrada minha pista de corridas e meu divã. Eram tardes que resgatavam meus dias. Durante as corridas, conversava comigo mesmo, e me entendia. E quando calava, ouvia a natureza cantar e falar. Olhava para o telhado (por vezes azul, branco, acinzentado, alaranjado) e o peso causado pelas convivências doentias desaparecia. Naquele lugar, o vento me rejuvenescia, trazia de volta o menino, e a saudade morria. Era um lugar encantado! O tudo me alcançava e me inseria nele. O sentido que eu dava para o caminho, me fazia chegar ao destino. Foi através do movimento que encontrei a calmaria. Foi através da calmaria que movimentei a vida. Percebi que correndo pela estrada conseguia retirar os excessos e preencher as faltas, emagrecia por fora e engordava por dentro. Estrada de vida; corrida sem pressa. Atividades físicas, atividades de alma. Uma corrida terapêutica. Uma estrada longa... até o fim.


Rodolfo Goulart

terça-feira, 12 de março de 2013

Definições que diferenciam

Aprendi sobre o significado das palavras “eu te amo” com minha primeira namorada. Depois de um mês de namoro, todo apaixonado, eu disse pra ela que a amava, esperando ouvir um simples “eu também”, mas diferentemente disso, ela franziu a testa, e disse que não acreditava nas minhas palavras; disse que aquilo não era amor, e que ele não nasce da noite pro dia, e completou dizendo que há muitas conseqüências ao dizer “eu te amo”. Eu insisti afirmando que a amava, e que por ela seria capaz de tudo, mas isso não a convenceu. Fiquei ensopado com o balde de água fria que ela me jogou. Fiquei com frio, mas, ela me aqueceu com um beijo. Eu pensava que a amava. Perto dela meu coração parecia uma escola de samba, eu contemplava o céu no azul do olhar dela; e suspirava. Mas depois de quatro meses, o namoro rumou ao fim. E agora? O que seria de mim? Eu sangraria por dentro até entrar em choque hipovolêmico? Não, não sangrei. Mas confesso que sofri por alguns poucos dias, e no máximo um mês depois, eu já estava totalmente aberto a outro relacionamento. E logo me apaixonei de novo. Penso: que amor era aquele que eu teimava em dizer que existia? É, não era amor. A moça de olhar azul tinha razão, era paixão. Com ela entendi o real significado do amor. Ele não é emoção e o “eu te amo” não é cumprimento. O amor é um abraço de almas, que não se explica muito, que simplesmente acontece, e não importa o que aconteça, nunca termina. Com isso, aprendi a amar de verdade, e expressar com verdade. Agradeço a sabedoria da moça, e peço que na minha vida o amor seja sempre percebido, e diferenciado de qualquer outra definição.

Rodolfo Goulart

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Frutos sempre frescos, nunca passados


  • Tenho medo de perder os que amo, medo da tristeza. Medo do hoje se tornar um passado que terá que ser esquecido ao invés de lembrado. Quero cultivar com os que são comigo, uma história inundada de vida. 
    Lembro-me que aos sete anos, uma grande amiga se afastou de mim por causa de uma briguinha... E estar longe fazia meu coração sangrar. Eu sonhava todas as noites com a nossa amizade; acordava e desejava ardentemente estar próximo dela. Mesmo criança, já sabia a importância de importar pessoas. Todos os dias na escola, comprava o melhor lanche da cantina, e durante o intervalo tentava ficar próximo dela, para que se naquele dia nós fizéssemos as pazes, eu teria o melhor para dividir com ela. Estar com as mãos cheias de carinho me fazia enxergar o valor dela em mim. Demorou uns dias para que eu vencesse o orgulho e me aproximasse, afim de que eu recebesse de volta o meu pedaço. Havia muito amor; e o amor não nos deixa ficar longe.  Ela é vida para minha vida. Consegue estar sempre perto, por morar dentro.  E que se um dia estiver longe, habitará meus sonhos. Uma amizade gostosa como um fruto maduro.
    Posso perder o que é eterno em mim? Posso perder minhas extensões? O 'hoje' pode apodrecer? Só peço que a vida seja uma árvore repleta de frutos doces. Nunca passados, sempre frescos; para que minha calmaria seja sempre alimentada.

    Rodolfo Goulart

Um processo de fim


Sou demora, sou espera, sou pressa.
Sou luta, derrota e vitória.
Sou recusa, sou doação, sou promessa.
Sou infâmia, sou nada, sou glória.
Sou dores, lágrimas, sou prazer.
Sou amor, sou desprezo, sou saudade.
Sou fraco, sou guerra, sou forte.
Levar... Deixar... Sou mais trazer!
Sou doença, sou remédio, sou cura.
Sou sanidade, sou histeria, sou loucura.
Sou blue de doer, sou amarelo, carmesim...
Sou nascimento, vida e vida
Um processo de fim...

Rodolfo Goulart

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Aqueles que conseguem abraçar meu coração, possuem: braços no olhar e mãos no sorriso. Alcançam meu mundo, conquistam seu lugar e me dão asas para voar. São abraços apertados, mas sem apertos. 
Sou de quem me faz livre. E essa tal liberdade algema meu coração.

Rodolfo Goulart

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sendo em mim

Prefiro o mundo de dentro.
Sim, este mundo que me faz voar,
Encontrando os desencontros.
Abraçando, e fazendo do ímpar, par.

Subo alto e olho ao redor,
Percebo seres que me completam
com características que me fazem amor.
Ah! Estes olhares que me enxergam.

Nesse lugar acendo os olhos para enxergar cores,
Nele não sou enganado,
Vejo aquilo que é atrás dos bastidores.
Reconheço os personagens desmascarados.

Intensas almas em uma,
Notadas na escuridão dos olhos fechados,
Que foram abertos para dentro com calma.
Acabando com a penumbra de ser um, ao sentir-se amado.

O canto dos pássaros, nesse mundo, é mais contagiante;
ouço com outros olhos.
Música que toca o profundo,
com a grandeza da simplicidade.

Em mim os segredos se vão.
Não há medo, não há temor.
Nesse mundo existe coração,
Abriga o inteiro com amor.

Resgato o passado, vivo os sonhos.
Faço dos que amo possuidores de mim.
E sem pressa, paro o tempo,
Percebendo que os encantos internos não têm fim.


Rodolfo Goulart

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pessoas-remédio

O alívio que a presença daqueles que amo me proporciona é maior do que o mais potente remédio. Lembro-me, que quando criança, os ferimentos causados por tombos eram aliviados pela presença da minha mãe. Ela me pegava no colo e dizia “Pulou, pulou... já vai sarar”, assoprava a ferida, e a cura começava a acontecer... O alívio não chegava pelo fato da dor desaparecer, mas sim por sentir que havia uma vida que soprava na minha. E não era qualquer vida, era a vida que me deu e dá vida! Nos dias de hoje saber que tenho pessoas que refrescam minhas dores e ajudam a sarar meus machucados, me faz ousado e seguro. Pessoas-calmantes, pessoas-cicatrizantes, pessoas-antídotos, elas são o que são porque agem assim em mim.

Rodolfo Goulart

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Evento do vento da vida


É o vento que passa com sua graça,
Que anima o que não se movia,
Que tira do lugar o que era ordenado.
É o vento que leva o leve e deixa o pesado.
É ele que semeia para nascer e derruba o fruto.
É o vento que tira a poeira, que suja o parado.
Refresca o quente e intensifica o frio.
Que alcança os cantos com seu encanto,
Com cantos que amenizam o pranto.
É o vento que tira, e que também devolve.
Que assopra as folhas e que derruba as flores.
É vento de vida, evento pra vida... é vento!


Rodolfo Goulart

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Quem olha por dentro enxerga

Hoje pela manhã observava a casa que fica em frente a minha.Tudo estava muito quieto. Fiquei preocupado. Será que todos daquela casa estariam dormindo? Viajando? Será que bandidos algemaram e amordaçaram meus vizinhos e os trancaram no banheiro? Poderiam estar mortos? Pensei em ligar para a emergência, mas antes resolvi espionar um pouco para obter algumas pistas. Após longos minutos de espera, a porta da frente se abriu, e saíram de lá várias pessoas contentes com crianças cantantes. Estava acontecendo uma festa de aniversário de uma criança na casa. E pelo lado de fora não era possível ver as movimentações do interior, a casa era grande. Meu rosto ficou vermelho quando lembrei das minhas interrogações. Percebi que quem olha só por fora enxerga raso e resumido, e corre o risco de concluir totalidades por faixadas. A quietude de fora não é capaz de definir a realidade; por dentro pode estar acontecendo festas agitadas ou brigas violentas. Para concluir é preciso fazer parte, parar de olhar pelo buraco da fechadura e abrir a porta para entrar na casa. Enxerga melhor quem olha por dentro. Sou casa-humana; para me definir, me olhe sem pressa, por dentro também, por favor!

Rodolfo Goulart

Uma volta e meia

Tive vizinhos que foram como pais pra mim. Um dia, meu vizinho construiu um balanço para seus filhos, e me disse que aquele presente também era meu. Isso foi muito significativo! Senti-me rico. Lembro-me que eu passava horas e horas naquele brinquedo (cheguei a dormir no balanço). Certa vez, quis dar uma volta completa nele. Dava fortes impulsos, mas não conseguia. Chegava alto, mas nunca completava a volta. E chegar alto, fazia minha barriga gelar, e meu coração disparar. Era um quase, que me dava esperança de continuar. Passou o tempo, e não consegui. Mas percebi que essa insistência me fez viver momentos cheios de risos e emoções. Penso que se eu tivesse conseguido, logo o brinquedo ficaria sem graça, e não teria vivido os momentos incríveis que o balanço me proporcionou. Então concluo: não ter economizado nas tentativas, me resultou em dar uma volta e meia pela vida, aprendendo a lidar com os altos e baixos, e também com as não conquistas. O importante é viver as tentativas como se tivesse conseguido. 
Obrigado vizinhos-pais. Voei balançando.

Rodolfo Goulart

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Chance


Disseram-me que chegaria um tempo que sentir-me-ia completo. Fiquei ansioso para saber quando e como seria. Desejei que o tempo batesse asas e trouxesse as respostas. Ele estava carregando minha plenitude. Um dia, a pedido da senhora Espera, o Tempo resolveu passar pela minha vida, e entregou minha outra parte. Quando recebi, percebi que encontrara o que procurava há anos. Era o amor... O amor que eu esperava e que me esperava. Veio para que eu o possuísse. Meu amor nunca iria embora... Minha amada! Abracei-a, respirei cada detalhe dela e a escondi em mim. Senti-me pleno; cheio; feliz. E o senhor tempo, deu o ar de sua graça novamente; passou. Acostumei com ela guardada, não a notava. Comecei a sentir saudade do que estava perto. Eu estava ausente para o meu presente. Estava perdido encontrado. Não entendia porque estava tão cheio de nada. Enlouqueci acompanhado, mas só. Ela me desejava e eu não a enxergava. Gritava-me, e não ouvia! O amor estava faminto. Fraco, decidiu ir embora, mas o barulho que a porta fez ao bater me acordou. Abri os olhos e não me encontrei. Tudo estava diferente. O ambiente não era o mesmo, as cores tinham ido embora. Entendi o que havia acontecido, estava incompleto novamente. Não consegui me conter, meus olhos se transformaram em cachoeiras que desejavam lavar o preto e branco, queria pintar a vida novamente; mas não conseguia. Gritei, e do lado de fora minha outra parte ouviu, pensou em voltar, mas não se convencia que deveria. Não voltou! Eu fiquei desabrigado dentro da minha casa, queria que acabasse tudo. Fechei os olhos; enxerguei que ela era a todo tempo presente; que morava dentro; que eu não a procurava e que estava sem cuidados. Minha alma sangrava. Gostaria de voltar. Fazer diferente... O silêncio foi entrando em meus ouvidos, dormi... E o tempo passou na minha vida. Abri os olhos, acordei...
Disseram-me que chegaria um tempo que sentir-me-ia completo... E ele chegou novamente...


Rodolfo Goulart

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O amor tem claustrofobia, reside na liberdade. Habita em casa com paredes fortes, mas com janelas e portas abertas.  Portanto não o aprisione, senão ele fica doente e morre.

Rodolfo Goulart
Por vezes falo sem emitir som. Os gestos são cheios de voz. Há os que me decifram, que escutam quando não digo. Sensibilidade que traduz o som que ecoa por dentro; sons que nem eu conhecia, mas aprendi a ouvir... Ensinaram-me a fazer uso de "aparelho auditivo" ou ouvir com os ouvidos do outro. Percebo que a voz que não é falada é a melhor de ser ouvida. Escuto.

Rodolfo Goulart

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Novos dias. Lugares inéditos. Pessoas que a pouco tempo atrás eram desconhecidas. Encontros seriam frutos do acaso? Não. Os frutos são sempre resultado dos plantios. Tudo fará sentido em algum momento, porque existe Alguém que segura em minhas mãos para me ajudar e ensinar a plantar, e eu confio no Agricultor. Um dia não precisarei plantar mais, e se eu tiver cuidado bem da plantação e colhido uma boa safra, receberei diploma de Agrônomo da alma.  Sigo nessa faculdade, aprendendo...

Rodolfo Goulart
Hoje vi uma criança contanto suas moedinhas para adoçar a vida com um sorvete, estava contente. Os adultos deveriam ser assim, gastar com o que dá sabor. São tantos que financiam os dissabores e azedumes da vida, que isso explica a fisionomia sem doçura de muitos. O sabor inicia nos planos, e o resultado fica estampado no rosto daquele que faz.

Rodolfo Goulart
É um tanto interessante a maneira que armazenamos as lembranças. Algumas conseguimos lembrar com riqueza de detalhes, já outras apagamos completamente e facilmente da memória. Penso que esta seleção se dá, para adaptarmos a realidade ao que já foi. 
Aquilo que é vivido intensamente, com certeza nunca deixará de existir, já os fatos superficiais, se vão rapidamente. Quero encher minha vida... Revivendo!

Rodolfo Goulart

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Amizade é uma matemática da vida. Juntos nos dividimos em um. Alivia-me os pesos me multiplicando. Adiciona-se a mim, diminuindo o eu que me sufoca. Enfim, amizade é um numero irmão (digo primo rs), que se divide por si e pelo outro.

Rodolfo Goulart




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Sou peça de um quebra-cabeça. Tudo termina sendo uma coisa só. Completando-se...

Rodolfo Goulart

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Hoje vi uma criança tentando abrir uma janela que estava emperrada. Tentou, tentou e se envergonhou por não conseguir. Sentou, entristeceu, aguardou um momento e tentou novamente, a janela se abriu, um vento refrescante tocou o seu rosto em sinal de recompensa pelo feito realizado, sorriu. Percebi a força existente naquela criança que não se limitou na derrota, na tristeza e na vergonha. Ela insistiu. Penso que onde há tentativas, há possibilidades de sucesso. Não há fraqueza que suporte a vontade de vencer. 
Rodolfo Goulart


sábado, 1 de dezembro de 2012

Poder tocar e curar. Ser raio de Sol na noite de muitos. Ser proteção aos que vivem no medo. Ser esperança aos que querem desistir. Ser alegria aos que não conseguem enxergar motivo. Ouvi dizer que isso é façanha dos heróis. Como não possuo tais poderes, contento-me em estender os braços. Fazer da vida uma extensão. A possibilidade de um dia chegar à solução.

Rodolfo Goulart
Minhas riquezas não guardo no cofre da memória. Eu as guardo num baú e escondo no coração. Ninguém as roubará. Nem a dor, nem a morte, nem a doença (está ouvindo Alzheimer? rs). O melhor vivido está em um lugar intocável. É para sempre.

Rodolfo Goulart

Pequenos Gigantes

O olhar de uma criança enxerga gigante. Seria a estatura de quem olha e para quem se olha, ou a verdade do amor existente no coração do possuidor do olhar? A criança sabe o real significado das coisas. Transfere com intensidade os sentimentos para o lado de fora. O amor amplia a visão. A mãe e o pai tornam-se os seres mais fortes do universo, os mais potentes super heróis... Eles se tornam gigantes. Recordo-me: as casinhas, da família, da avó transformavam-se nas mais belas mansões. O carrinho velho do pai tornava-se a mais veloz Ferrari. A companhia da irmã, ou do irmão era motivo para planejar grandes aventuras. Um quadradrinho de terra no quintal era a mais linda fazenda, o simples e barato brinquedo figurava para o que havia de mais novo em robótica. O belo disso tudo é perceber que a criança não vê assim para ser melhor, mas por entender que, pelo amor que ela tem no que possui, tudo se torna GRANDE. O simples com amor, se torna essencial. O pequeno se transforma em gigante. Estes serezinhos são na verdade GIGANTES DA VIDA, aprendo com os de hoje e sinto saudades do pequeno gigante que fui.

Rodolfo Goulart
Quando eu era criança, nas visitas que fazia à minha avó, sempre a presenteava com uma flor que, geralmente, encontrava no caminho até a sua casa. A alegria estampada em seu rosto, causada pelo presente, me deixava orgulhoso. Após um demorado abraço, ela colocava a flor num copo com água. Tinha a impressão de que ela queria eternizar meu carinho. Penso que a essência está ai: zelar pela história para eternizar o encontro.

Rodolfo Goulart


Uma árvore grande me cobria, e sua sombra refrescava meus pensamentos. Deitei e aconcheguei minha alma. Fechei os olhos e fui transportado para um universo que consegue me transformar, transbordar. De lá saio cheio do melhor de mim. Meu mundo me acalma.


Rodolfo Goulart

Com os olhos da alma

Quando cursava o primário, a professora pediu para fazermos uma redação a partir de uma figura, que mostrava uma senhora cega segurando uma caixa colorida nas mãos, e sorrindo. Titulei minha dissertação como: "Mãos que enxergam". Neste texto eu dizia que a beleza de sentir vale mais do que a de ver. Acredito que as cores foram sentidas nas mãos daquela senhora, e que a beleza era ainda maior, porque quando se toca com sentimento, a alma amplia. Com essa recordação penso:  se com as mãos consigo alcançar o que os olhos não podem, conseguirei perceber cores na escuridão com os olhos voltados para dentro.

Rodolfo Goulart
Prefiro ser instável em algumas situações. Assim como o clima é, como o tempo, como a natureza. O que foi a um minuto não é mais. Foi. Às vezes gosto da inconstância. Gosto de loucuras, de calmaria, de grito, de silêncio. Prefiro viver sendo um misto; sendo muitos, uma surpresa, a que me sujeitar a ser apenas um e correr o risco de viver uma vida desinteressante. 
A estabilidade é relativa. Sendo assim, consigo entender que em algumas situações ela é totalmente necessária, mas em outras ela pode se tornar prisão. (Se sou bipolar? Acho que não. Me definiria como alguém que gosta da liberdade de estar ou não do jeito que preferir... rs)

Rodolfo Goulart
É preciso sair da margem. Mergulhar. Não se contentar com a beleza da superfície. O que existe no profundo é bem mais impactante. Há um mundo onde os olhos não conseguem chegar.

Tenho receio dos que estão do lado de fora. Esses podem bater à porta, e com o barulho quebrar a harmonia. Aqui dentro ecoa uma música que não pode ser interrompida. No interior só entram aqueles que sabem cantar a música que eu canto. Então peço, só interrompa a canção se for para ajudar a cantar.

Rodolfo Goulart
Decidi descomplicar o complexo, ele sufoca a alma. Vejo que a simplicidade traz leveza pra vida. Necessito desprender-me dos artifícios para que minha atenção seja direcionada para o intrépido da existência: a felicidade.

Rodolfo Goulart
Quando leio, sigo com um pincel nas mãos.
Marco, destaco, rabisco. 
Quando reler o livro,
darei atenção para aquilo que foi destacado.
E não perderei tempo em olhar pro que foi rabiscado.

Rodolfo Goulart
Gostaria de enxergar com os olhos fechados,
Fechar os olhos e continuar vendo
Clarear a escuridão,
Matar os medos...

Fazer das noites um eterno dia, 
Ser guiado pelo Sol,
E andar pela vida
Pisando sem pressa de concluí-la


Quero encher de Luz meu interior,
E ver o menino que mora em mim,
Matar a saudade do belo que não tem fim.


Rodolfo Goulart