segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Quem olha por dentro enxerga

Hoje pela manhã observava a casa que fica em frente a minha.Tudo estava muito quieto. Fiquei preocupado. Será que todos daquela casa estariam dormindo? Viajando? Será que bandidos algemaram e amordaçaram meus vizinhos e os trancaram no banheiro? Poderiam estar mortos? Pensei em ligar para a emergência, mas antes resolvi espionar um pouco para obter algumas pistas. Após longos minutos de espera, a porta da frente se abriu, e saíram de lá várias pessoas contentes com crianças cantantes. Estava acontecendo uma festa de aniversário de uma criança na casa. E pelo lado de fora não era possível ver as movimentações do interior, a casa era grande. Meu rosto ficou vermelho quando lembrei das minhas interrogações. Percebi que quem olha só por fora enxerga raso e resumido, e corre o risco de concluir totalidades por faixadas. A quietude de fora não é capaz de definir a realidade; por dentro pode estar acontecendo festas agitadas ou brigas violentas. Para concluir é preciso fazer parte, parar de olhar pelo buraco da fechadura e abrir a porta para entrar na casa. Enxerga melhor quem olha por dentro. Sou casa-humana; para me definir, me olhe sem pressa, por dentro também, por favor!

Rodolfo Goulart

Uma volta e meia

Tive vizinhos que foram como pais pra mim. Um dia, meu vizinho construiu um balanço para seus filhos, e me disse que aquele presente também era meu. Isso foi muito significativo! Senti-me rico. Lembro-me que eu passava horas e horas naquele brinquedo (cheguei a dormir no balanço). Certa vez, quis dar uma volta completa nele. Dava fortes impulsos, mas não conseguia. Chegava alto, mas nunca completava a volta. E chegar alto, fazia minha barriga gelar, e meu coração disparar. Era um quase, que me dava esperança de continuar. Passou o tempo, e não consegui. Mas percebi que essa insistência me fez viver momentos cheios de risos e emoções. Penso que se eu tivesse conseguido, logo o brinquedo ficaria sem graça, e não teria vivido os momentos incríveis que o balanço me proporcionou. Então concluo: não ter economizado nas tentativas, me resultou em dar uma volta e meia pela vida, aprendendo a lidar com os altos e baixos, e também com as não conquistas. O importante é viver as tentativas como se tivesse conseguido. 
Obrigado vizinhos-pais. Voei balançando.

Rodolfo Goulart

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Chance


Disseram-me que chegaria um tempo que sentir-me-ia completo. Fiquei ansioso para saber quando e como seria. Desejei que o tempo batesse asas e trouxesse as respostas. Ele estava carregando minha plenitude. Um dia, a pedido da senhora Espera, o Tempo resolveu passar pela minha vida, e entregou minha outra parte. Quando recebi, percebi que encontrara o que procurava há anos. Era o amor... O amor que eu esperava e que me esperava. Veio para que eu o possuísse. Meu amor nunca iria embora... Minha amada! Abracei-a, respirei cada detalhe dela e a escondi em mim. Senti-me pleno; cheio; feliz. E o senhor tempo, deu o ar de sua graça novamente; passou. Acostumei com ela guardada, não a notava. Comecei a sentir saudade do que estava perto. Eu estava ausente para o meu presente. Estava perdido encontrado. Não entendia porque estava tão cheio de nada. Enlouqueci acompanhado, mas só. Ela me desejava e eu não a enxergava. Gritava-me, e não ouvia! O amor estava faminto. Fraco, decidiu ir embora, mas o barulho que a porta fez ao bater me acordou. Abri os olhos e não me encontrei. Tudo estava diferente. O ambiente não era o mesmo, as cores tinham ido embora. Entendi o que havia acontecido, estava incompleto novamente. Não consegui me conter, meus olhos se transformaram em cachoeiras que desejavam lavar o preto e branco, queria pintar a vida novamente; mas não conseguia. Gritei, e do lado de fora minha outra parte ouviu, pensou em voltar, mas não se convencia que deveria. Não voltou! Eu fiquei desabrigado dentro da minha casa, queria que acabasse tudo. Fechei os olhos; enxerguei que ela era a todo tempo presente; que morava dentro; que eu não a procurava e que estava sem cuidados. Minha alma sangrava. Gostaria de voltar. Fazer diferente... O silêncio foi entrando em meus ouvidos, dormi... E o tempo passou na minha vida. Abri os olhos, acordei...
Disseram-me que chegaria um tempo que sentir-me-ia completo... E ele chegou novamente...


Rodolfo Goulart

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O amor tem claustrofobia, reside na liberdade. Habita em casa com paredes fortes, mas com janelas e portas abertas.  Portanto não o aprisione, senão ele fica doente e morre.

Rodolfo Goulart
Por vezes falo sem emitir som. Os gestos são cheios de voz. Há os que me decifram, que escutam quando não digo. Sensibilidade que traduz o som que ecoa por dentro; sons que nem eu conhecia, mas aprendi a ouvir... Ensinaram-me a fazer uso de "aparelho auditivo" ou ouvir com os ouvidos do outro. Percebo que a voz que não é falada é a melhor de ser ouvida. Escuto.

Rodolfo Goulart

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Novos dias. Lugares inéditos. Pessoas que a pouco tempo atrás eram desconhecidas. Encontros seriam frutos do acaso? Não. Os frutos são sempre resultado dos plantios. Tudo fará sentido em algum momento, porque existe Alguém que segura em minhas mãos para me ajudar e ensinar a plantar, e eu confio no Agricultor. Um dia não precisarei plantar mais, e se eu tiver cuidado bem da plantação e colhido uma boa safra, receberei diploma de Agrônomo da alma.  Sigo nessa faculdade, aprendendo...

Rodolfo Goulart
Hoje vi uma criança contanto suas moedinhas para adoçar a vida com um sorvete, estava contente. Os adultos deveriam ser assim, gastar com o que dá sabor. São tantos que financiam os dissabores e azedumes da vida, que isso explica a fisionomia sem doçura de muitos. O sabor inicia nos planos, e o resultado fica estampado no rosto daquele que faz.

Rodolfo Goulart
É um tanto interessante a maneira que armazenamos as lembranças. Algumas conseguimos lembrar com riqueza de detalhes, já outras apagamos completamente e facilmente da memória. Penso que esta seleção se dá, para adaptarmos a realidade ao que já foi. 
Aquilo que é vivido intensamente, com certeza nunca deixará de existir, já os fatos superficiais, se vão rapidamente. Quero encher minha vida... Revivendo!

Rodolfo Goulart

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Amizade é uma matemática da vida. Juntos nos dividimos em um. Alivia-me os pesos me multiplicando. Adiciona-se a mim, diminuindo o eu que me sufoca. Enfim, amizade é um numero irmão (digo primo rs), que se divide por si e pelo outro.

Rodolfo Goulart




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Sou peça de um quebra-cabeça. Tudo termina sendo uma coisa só. Completando-se...

Rodolfo Goulart

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Hoje vi uma criança tentando abrir uma janela que estava emperrada. Tentou, tentou e se envergonhou por não conseguir. Sentou, entristeceu, aguardou um momento e tentou novamente, a janela se abriu, um vento refrescante tocou o seu rosto em sinal de recompensa pelo feito realizado, sorriu. Percebi a força existente naquela criança que não se limitou na derrota, na tristeza e na vergonha. Ela insistiu. Penso que onde há tentativas, há possibilidades de sucesso. Não há fraqueza que suporte a vontade de vencer. 
Rodolfo Goulart


sábado, 1 de dezembro de 2012

Poder tocar e curar. Ser raio de Sol na noite de muitos. Ser proteção aos que vivem no medo. Ser esperança aos que querem desistir. Ser alegria aos que não conseguem enxergar motivo. Ouvi dizer que isso é façanha dos heróis. Como não possuo tais poderes, contento-me em estender os braços. Fazer da vida uma extensão. A possibilidade de um dia chegar à solução.

Rodolfo Goulart
Minhas riquezas não guardo no cofre da memória. Eu as guardo num baú e escondo no coração. Ninguém as roubará. Nem a dor, nem a morte, nem a doença (está ouvindo Alzheimer? rs). O melhor vivido está em um lugar intocável. É para sempre.

Rodolfo Goulart

Pequenos Gigantes

O olhar de uma criança enxerga gigante. Seria a estatura de quem olha e para quem se olha, ou a verdade do amor existente no coração do possuidor do olhar? A criança sabe o real significado das coisas. Transfere com intensidade os sentimentos para o lado de fora. O amor amplia a visão. A mãe e o pai tornam-se os seres mais fortes do universo, os mais potentes super heróis... Eles se tornam gigantes. Recordo-me: as casinhas, da família, da avó transformavam-se nas mais belas mansões. O carrinho velho do pai tornava-se a mais veloz Ferrari. A companhia da irmã, ou do irmão era motivo para planejar grandes aventuras. Um quadradrinho de terra no quintal era a mais linda fazenda, o simples e barato brinquedo figurava para o que havia de mais novo em robótica. O belo disso tudo é perceber que a criança não vê assim para ser melhor, mas por entender que, pelo amor que ela tem no que possui, tudo se torna GRANDE. O simples com amor, se torna essencial. O pequeno se transforma em gigante. Estes serezinhos são na verdade GIGANTES DA VIDA, aprendo com os de hoje e sinto saudades do pequeno gigante que fui.

Rodolfo Goulart
Quando eu era criança, nas visitas que fazia à minha avó, sempre a presenteava com uma flor que, geralmente, encontrava no caminho até a sua casa. A alegria estampada em seu rosto, causada pelo presente, me deixava orgulhoso. Após um demorado abraço, ela colocava a flor num copo com água. Tinha a impressão de que ela queria eternizar meu carinho. Penso que a essência está ai: zelar pela história para eternizar o encontro.

Rodolfo Goulart


Uma árvore grande me cobria, e sua sombra refrescava meus pensamentos. Deitei e aconcheguei minha alma. Fechei os olhos e fui transportado para um universo que consegue me transformar, transbordar. De lá saio cheio do melhor de mim. Meu mundo me acalma.


Rodolfo Goulart

Com os olhos da alma

Quando cursava o primário, a professora pediu para fazermos uma redação a partir de uma figura, que mostrava uma senhora cega segurando uma caixa colorida nas mãos, e sorrindo. Titulei minha dissertação como: "Mãos que enxergam". Neste texto eu dizia que a beleza de sentir vale mais do que a de ver. Acredito que as cores foram sentidas nas mãos daquela senhora, e que a beleza era ainda maior, porque quando se toca com sentimento, a alma amplia. Com essa recordação penso:  se com as mãos consigo alcançar o que os olhos não podem, conseguirei perceber cores na escuridão com os olhos voltados para dentro.

Rodolfo Goulart
Prefiro ser instável em algumas situações. Assim como o clima é, como o tempo, como a natureza. O que foi a um minuto não é mais. Foi. Às vezes gosto da inconstância. Gosto de loucuras, de calmaria, de grito, de silêncio. Prefiro viver sendo um misto; sendo muitos, uma surpresa, a que me sujeitar a ser apenas um e correr o risco de viver uma vida desinteressante. 
A estabilidade é relativa. Sendo assim, consigo entender que em algumas situações ela é totalmente necessária, mas em outras ela pode se tornar prisão. (Se sou bipolar? Acho que não. Me definiria como alguém que gosta da liberdade de estar ou não do jeito que preferir... rs)

Rodolfo Goulart
É preciso sair da margem. Mergulhar. Não se contentar com a beleza da superfície. O que existe no profundo é bem mais impactante. Há um mundo onde os olhos não conseguem chegar.

Tenho receio dos que estão do lado de fora. Esses podem bater à porta, e com o barulho quebrar a harmonia. Aqui dentro ecoa uma música que não pode ser interrompida. No interior só entram aqueles que sabem cantar a música que eu canto. Então peço, só interrompa a canção se for para ajudar a cantar.

Rodolfo Goulart
Decidi descomplicar o complexo, ele sufoca a alma. Vejo que a simplicidade traz leveza pra vida. Necessito desprender-me dos artifícios para que minha atenção seja direcionada para o intrépido da existência: a felicidade.

Rodolfo Goulart
Quando leio, sigo com um pincel nas mãos.
Marco, destaco, rabisco. 
Quando reler o livro,
darei atenção para aquilo que foi destacado.
E não perderei tempo em olhar pro que foi rabiscado.

Rodolfo Goulart
Gostaria de enxergar com os olhos fechados,
Fechar os olhos e continuar vendo
Clarear a escuridão,
Matar os medos...

Fazer das noites um eterno dia, 
Ser guiado pelo Sol,
E andar pela vida
Pisando sem pressa de concluí-la


Quero encher de Luz meu interior,
E ver o menino que mora em mim,
Matar a saudade do belo que não tem fim.


Rodolfo Goulart