segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Chance


Disseram-me que chegaria um tempo que sentir-me-ia completo. Fiquei ansioso para saber quando e como seria. Desejei que o tempo batesse asas e trouxesse as respostas. Ele estava carregando minha plenitude. Um dia, a pedido da senhora Espera, o Tempo resolveu passar pela minha vida, e entregou minha outra parte. Quando recebi, percebi que encontrara o que procurava há anos. Era o amor... O amor que eu esperava e que me esperava. Veio para que eu o possuísse. Meu amor nunca iria embora... Minha amada! Abracei-a, respirei cada detalhe dela e a escondi em mim. Senti-me pleno; cheio; feliz. E o senhor tempo, deu o ar de sua graça novamente; passou. Acostumei com ela guardada, não a notava. Comecei a sentir saudade do que estava perto. Eu estava ausente para o meu presente. Estava perdido encontrado. Não entendia porque estava tão cheio de nada. Enlouqueci acompanhado, mas só. Ela me desejava e eu não a enxergava. Gritava-me, e não ouvia! O amor estava faminto. Fraco, decidiu ir embora, mas o barulho que a porta fez ao bater me acordou. Abri os olhos e não me encontrei. Tudo estava diferente. O ambiente não era o mesmo, as cores tinham ido embora. Entendi o que havia acontecido, estava incompleto novamente. Não consegui me conter, meus olhos se transformaram em cachoeiras que desejavam lavar o preto e branco, queria pintar a vida novamente; mas não conseguia. Gritei, e do lado de fora minha outra parte ouviu, pensou em voltar, mas não se convencia que deveria. Não voltou! Eu fiquei desabrigado dentro da minha casa, queria que acabasse tudo. Fechei os olhos; enxerguei que ela era a todo tempo presente; que morava dentro; que eu não a procurava e que estava sem cuidados. Minha alma sangrava. Gostaria de voltar. Fazer diferente... O silêncio foi entrando em meus ouvidos, dormi... E o tempo passou na minha vida. Abri os olhos, acordei...
Disseram-me que chegaria um tempo que sentir-me-ia completo... E ele chegou novamente...


Rodolfo Goulart

3 comentários:

  1. Acostumar-se com o outro e perder a sensibilidade de sentir as coisas (sempre) como se fossem a primeira vez é o erro mais cometido. Acostumar e deixar de dar valor. Acostumar e deixar de perceber. Acostumar...
    É isso que faz os relacionamentos acabarem. Beijos que tiravam o fôlego passam a não surpreender mais, o cheiro que entorpecia já não tem o mesmo efeito, abraços que confortavam já não passam de um simples gesto. O amor não acaba, somos nós, que irresponsáveis (e porque não insensíveis?) deixamos ele dissipar-se. O amor fica morno, acomodado e em pouco tempo esfria, ficando impróprio para o "consumo". Amor bom é aquele sempre quente e renovado todo dia. Temos que nos atentar a isso.

    Coisa linda os seus escritos, menino!
    (:

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